Revisionismo histórico e mitos não fundamentados são duas coisas que me chateiam solenemente. Como tal ver a campanha que dura desde o regime de Salazar para fazer de Eusébio um ícone da selecção nacional não me pode deixar de enojar.
Isto ao mesmo tempo que sempre que se falava de Figo, e agora de Cristiano Ronaldo, se diz que eles na selecção nunca renderam tanto como nos clubes. Coisa obviamente falsa, mas se olharmos para o histórico de Eusébio na selecção fica ainda mais claro quem nunca rendeu o mesmo quando envergava a camisola das Quinas.
Apuramento para o Mundial de 1962
Num apuramento a três contra a Inglaterra e o Luxemburgo, passando apenas o primeiro, a Inglaterra seria o nosso maior rival. Até porque nesse ano o Benfica com Eusébio tinha ganho a Taça dos Campeões Europeus.
Eusébio disputou os últimos dois jogos do apuramento, claramente decepcionantes. Perdermos com a Inglaterra por duas bolas a zero. E mais humilhante, com o Luxemburgo por 4-2.
Apuramento para o Europeu de 1964
Numa eliminatória a duas mãos para qualificação directa calhou-nos em sorte a Bulgária.
Com duas derrotas em três jogos fomos no entanto eliminados, por uma selecção que cairia logo de seguida também no Europeu.
Mundial de 1966
O momento de glória de Eusébio sem sombra de dúvida. Dele e de toda essa geração que tinha variados talentos de todos os sectores.
Mesmo contando as partes menos boas do percurso como a entrada assassina como retiramos Pelé de prova, um pouco como a França tentou fazer connosco no Europeu de 2016 lesionando Ronaldo.
Apuramento para o Europeu de 1968
Num grupo com Noruega, Bulgária e Suécia os únicos pontos que conseguimos foram nos dois confrontos em que vencemos a Noruega.
Noruega esta que ficou em último lugar do grupo com 3 pontos em seis jogos. Nestes seis jogos Eusébio apenas marcou num dos confrontos com a Noruega.
Apuramento para o Mundial de 1970
Num grupo com a Grécia, Suiça e Roménia a nossa selecção, liderada por Eusébio, conseguiu um nada honroso último lugar.
E em seis jogos o Pantera Negra apenas conseguiu facturar frente à Grécia.
Apuramento para o Europeu de 1972
Num grupo com Dinamarca, Escócia e Bélgica ficámos em segundo lugar atrás da Bélgica.
Em todo este apuramento, 6 jogos, Eusébio marcou por duas vezes, sendo uma delas à Dinamarca e a outra à Escócia.
Apuramento para o Mundial de 1974
Na ultima campanha de apuramento da selecção nacional com Eusébio era difícil pedir um grupo mais fácil. Chipre, Bulgária e Irlanda do Norte eram claramente selecções à nossa mercê.
Eusébio participou apenas em três embates nesta campanha, um deles contra a Irlanda do Norte, onde marcou o seu único golo nesta série no empate frente aos norte-irlandeses. Nos dois confrontos com a Bulgária não marcou qualquer golo e perdemos um jogo e empatámos o outro.
Duas vitórias, três empates e uma derrota foram manifestamente pouco, e com isso fomos afastados de mais uma grande prova. A sexta vez em sete tentativas com Eusébio na selecção.
Como se pode criticar Figo e Ronaldo enquanto se elogia Eusébio?
Outra das criticas recorrentes a Ronaldo é que marca muitos golos a selecções fracas. Mas são em jogos oficiais em que as equipas se defendem com tudo o que podem. Eusébio marcou bem mais golos em jogos amigáveis que em jogos realmente a contar.
E os factos duros são estes. Com Figo a selecção apenas falhou uma grande prova, o Mundial de 1998, graças a uma expulsão de Rui Costa completamente injusta frente à Alemanha.
Com Ronaldo não só Portugal qualificou-se sempre, como além de vários top4 conquistou mesmo uma grande prova, o Europeu de 2016.
Não brinquem com coisas sérias quando comparam um homem que com uma grande selecção se apurou apenas uma vez em sete tentativas, quando temos Ronaldo e Figo!
Este texto Eusébio na Selecção – Um momento de glória no meio de fracassos sem fim foi publicado originalmente aqui Sporting Com Filtro.
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